A Soltura de Rodrigo Bacellar e a Pergunta que Fica: Ainda Há Caminho para 2026?

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A crise política que tomou conta do Rio de Janeiro ganhou novos contornos nos últimos dias com a prisão e posterior soltura do deputado estadual Rodrigo Bacellar (União Brasil), então presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Bacellar foi detido pela Polícia Federal no dia 3 de dezembro, no âmbito da Operação Unha e Carne, acusado de supostamente obstruir investigações relacionadas ao crime organizado e vazar informações sigilosas da Operação Zargun, deflagrada meses antes. As autoridades afirmam haver indícios de que Bacellar teria alertado o ex-deputado TH Joias, acusado de ligação com o Comando Vermelho, sobre ações policiais, contribuindo para ocultação de provas e dificultando o trabalho investigativo.

A prisão preventiva provocou forte repercussão política dentro e fora da Alerj. Em sessão realizada na última terça-feira (9), os deputados estaduais se reuniram para decidir se manteriam ou não a detenção do colega. Amparados no artigo 53 da Constituição Federal — que permite às Casas Legislativas revogarem prisões de parlamentares não flagranciais — os deputados votaram pela soltura: foram 42 votos favoráveis, 21 contrários e duas abstenções.

A decisão, contudo, não encerrou o caso. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ao autorizar a liberdade do deputado, impôs uma série de medidas cautelares severas. Entre elas, o uso obrigatório de tornozeleira eletrônica, o afastamento da presidência da Alerj, a proibição de comunicação com outros investigados, recolhimento domiciliar noturno, entrega de passaportes e suspensão do porte de arma. Moraes também alertou que qualquer descumprimento resultará em nova ordem de prisão.

Após deixar a prisão, Bacellar protocolou um pedido de licença de 10 dias, justificando a necessidade de tratar de assuntos particulares. A licença ocorre justamente quando o ano legislativo já está chegando ao fim, o que reduz a pressão imediata sobre sua presença no plenário e dá ao deputado um curto período para reorganizar sua estratégia política.

O episódio reacendeu um debate incômodo, porém inevitável: é moralmente aceitável que o presidente do Legislativo fluminense — o segundo cargo mais poderoso do estado — esteja usando tornozeleira eletrônica? Embora a legislação permita que o deputado mantenha o mandato e exerça funções legislativas, parte da opinião pública e setores jurídicos questionam se a condição do parlamentar não compromete a credibilidade institucional da Casa. Um Legislativo cuja principal função é fiscalizar, legislar e zelar pela ética pública pode conviver, sem danos à sua imagem, com um dirigente sob acusações tão graves? O debate permanece aberto e tende a se intensificar nos próximos meses.

O impacto político do caso também gera dúvidas sobre o futuro. Nos bastidores, Bacellar vinha sendo citado como possível candidato ao governo do estado do Rio de Janeiro em 2026. Com forte influência regional e articulação consolidada dentro da Alerj, seu nome surgia como alternativa ao cenário fragmentado da política fluminense. Entretanto, a prisão, o uso de tornozeleira e a repercussão nacional do caso colocam em xeque a viabilidade dessa candidatura.

A grande questão é: o eleitor fluminense aceitará um postulante ao governo que, meses antes, esteve no centro de uma operação da Polícia Federal? A política, embora movida por estratégias e narrativas, depende de confiança — e confiança é um bem precioso e frágil. Em um estado marcado por escândalos envolvendo ex-governadores, investigações milionárias e sucessivas intervenções judiciais, qualquer sombra de dúvida sobre integridade pesa ainda mais.

Por outro lado, a história política brasileira já mostrou que crises podem ser reinterpretadas, ressignificadas e até transformadas em bandeiras eleitorais — dependendo do desfecho jurídico e da capacidade de comunicação do candidato. Mas, no caso de Bacellar, a situação permanece incerta: se for inocentado ou tiver seu caso desqualificado, poderá argumentar perseguição ou injustiça. Se as acusações se sustentarem, sua carreira tende a sofrer danos irreversíveis.

O fato é que o episódio marca um divisor de águas. Seja qual for o destino político do deputado, o caso provoca uma reflexão profunda sobre o tipo de liderança que o Rio de Janeiro deseja para 2026: um estado cansado de crises institucionais, sedento por estabilidade e cada vez mais exigente com a conduta de seus representantes.