Tagliaferro afirma que relatório usado para embasar ação da PF teve data fraudada

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O perito Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, afirmou nesta quarta-feira que um relatório técnico teria tido a data adulterada para justificar uma operação da Polícia Federal contra empresários ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo ele, a medida buscou ocultar o fato de que a ação policial teria sido motivada exclusivamente por uma reportagem jornalística.

As declarações foram feitas durante uma audiência pública promovida pela oposição na Comissão de Segurança Pública do Senado. O encontro ocorreu no mesmo horário em que o STF julgava o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros sete réus.

Durante o depoimento, Tagliaferro apresentou documentos e arquivos digitais para sustentar as acusações. De acordo com ele, a controvérsia remonta a agosto de 2022, quando o site Metrópoles publicou uma reportagem revelando que empresários teriam defendido, em um grupo de WhatsApp, um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder. Dias depois da publicação, em 23 de agosto, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão contra os empresários, por determinação do ministro Alexandre de Moraes.

À época, a operação foi alvo de questionamentos de jornalistas e juristas, que levantaram dúvidas sobre a existência de elementos técnicos prévios que justificassem a medida, além da reportagem. Segundo Tagliaferro, diante das críticas, o juiz-instrutor do gabinete de Moraes, Airton Vieira, teria solicitado, após a operação, a elaboração de um relatório sobre o grupo de WhatsApp mencionado na matéria.

Ainda conforme o perito, registros exibidos aos senadores indicariam que o documento foi produzido apenas em 28 de agosto, cinco dias após o cumprimento dos mandados. No entanto, nos autos do processo, a data de elaboração do relatório consta como 22 de agosto — um dia antes da operação da Polícia Federal.

Procurado, o gabinete do ministro Alexandre de Moraes afirmou, em resposta ao UOL, que todos os relatórios “foram juntados nessas investigações e em outras conexas e enviados à Polícia Federal para a continuidade das diligências necessárias, sempre com ciência da Procuradoria-Geral da República”.

As declarações de Tagliaferro devem intensificar o embate político e jurídico em torno das investigações conduzidas pelo STF no contexto dos atos antidemocráticos e da atuação de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.