Os protestos realizados neste domingo (7), em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro e pela anistia de envolvidos nos atos de 8 de janeiro, tiveram forte repercussão na imprensa internacional, que destacou tanto a dimensão das manifestações quanto os sinais de radicalização política e de dependência externa de apoio ideológico, especialmente em relação ao ex-presidente norte-americano Donald Trump.
A agência Reuters apontou que, embora marcados por símbolos nacionais, os protestos também foram permeados por bandeiras e referências aos Estados Unidos, algo interpretado como um apelo de parte da direita brasileira a forças externas para intervir no cenário político nacional. A agência lembrou que Trump tem se posicionado a favor de Bolsonaro, mas também recordou momentos de tensão na relação bilateral durante o mandato do republicano.
O New York Times chamou atenção para o fato de Bolsonaro continuar a mobilizar massas mesmo diante de processos judiciais e da possibilidade de condenação, descrevendo o fenômeno como um desafio às instituições brasileiras. O jornal destacou ainda que o protagonismo dado a Trump nas manifestações revela um enfraquecimento da confiança em soluções internas e reforça a imagem de um país profundamente dividido.
O britânico The Guardian foi mais incisivo: segundo o jornal, os pedidos de intervenção internacional feitos por manifestantes, incluindo declarações como “Trump é a nossa única salvação”, soam como sinais de desespero político e como uma ameaça à soberania brasileira, na medida em que transferem para outro país a responsabilidade pela crise.
Na América Latina, o Clarín (Argentina) noticiou que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia estiveram entre os principais nomes do ato na Avenida Paulista, pedindo anistia ampla, inclusive para o próprio Bolsonaro. O jornal frisou que o gesto expõe uma estratégia de confronto com o Judiciário e amplia o clima de tensão no país.
O espanhol El País ressaltou a fala de Michelle Bolsonaro, que acusou o Supremo de “amordaçar” o ex-presidente com uma tornozeleira eletrônica antes mesmo de uma condenação. Para o veículo, esse discurso foi recebido como combustível para o discurso de vitimização que sustenta a narrativa bolsonarista diante da Justiça.
A repercussão internacional, em tom crítico, contrasta com o caráter festivo que parte dos organizadores tentou imprimir aos atos. No exterior, o que se viu foi preocupação com o futuro da democracia brasileira e a percepção de que o país continua preso a um ciclo de instabilidade, no qual a polarização política se confunde com a contestação às instituições.
Enquanto isso, o Supremo Tribunal Federal retoma nesta terça-feira (9) a segunda semana do julgamento de Bolsonaro e outros sete réus, em um processo que, segundo analistas estrangeiros, poderá definir os rumos da democracia brasileira — e testar sua resiliência diante da pressão das ruas.