No Dia das Crianças, facções promoveram festas e distribuíram brinquedos em comunidades dominadas pelo tráfico, enquanto o Estado assiste inerte ao avanço do assistencialismo criminoso.
Neste 12 de outubro de 2025, Dia das Crianças, o retrato da falência estatal se repete com força: festas financiadas pelo tráfico, distribuição de brinquedos, pula-pula, doces e até parques de diversões contratados por facções.
Em locais como Serrinha (TCP), Nova Holanda (CV), Complexo de Israel (TCP), Jacaré (CV) e Santa Tereza (TCP), o crime organizado tomou para si a função que deveria ser do poder público — oferecer alegria, pertencimento e “cuidado” à população.
Segundo dados e reportagens já amplamente divulgadas, esses “eventos comunitários” são bancados com dinheiro sujo da extorsão, o famoso “arrego” cobrado de comerciantes locais. Trata-se de um imposto paralelo, um tributo de guerra que financia o assistencialismo criminoso e transforma traficantes em benfeitores — uma inversão perversa dos valores sociais.
Enquanto isso, o Estado permanece imóvel, delegando à criminalidade a função de prefeito, gestor e até “protetor” das comunidades.
E o resultado é devastador:
criminosos se tornam heróis, e policiais, os vilões.
Mas a culpa não é da polícia.
As instituições policiais do Rio de Janeiro fazem milagres diários com recursos escassos, enfrentando uma guerra sem fim e, ainda assim, são tratadas como o inimigo. É uma contradição cruel: a sociedade cobra da polícia o que o Estado jamais entregou — educação, saúde, saneamento, oportunidades.
A segurança pública não se constrói apenas com fuzis e confrontos. Esses confrontos são apenas o último sintoma de um sistema em colapso, que já morreu antes, nas salas de aula precárias, nos hospitais sucateados, nas casas sem saneamento e nas famílias abandonadas pela assistência social.
A violência é o capítulo final de uma longa história de omissão estatal.
E o policial é o personagem que paga a conta de todos os erros anteriores.
Enquanto o crime se organiza, o Estado se ausenta.
E, nesse vácuo de poder, as crianças aprendem a admirar quem deveriam temer — não porque o crime venceu, mas porque o Estado desistiu de lutar.
As imagens que circulam nas redes sociais, reproduzidas de fontes abertas, são o retrato mais honesto do fracasso de uma política pública que se resume à ausência.
E cada pula-pula montado pelo tráfico é um lembrete de que, no Rio de Janeiro, a infância já não pertence ao Estado — pertence ao crime.
Por Marcos Soares
Jornalista – Analista Político instagram.com/@marcossoaresrj
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