Por Mara Costa
Em um mercado de tecnologia que vive sob a pressão da velocidade, a especialista em gestão de projetos Stella Lunardeli defende que o segredo da alta performance não está em correr, mas em construir uma cultura ágil que promova a produtividade sustentável. Com mais de 15 anos de experiência, a atual Gerente de Projetos Sênior na ArcTouch compartilha suas reflexões em uma entrevista exclusiva.
Em um setor definido pela disrupção e pela necessidade constante de inovação, a busca por produtividade tornou-se um mantra. No entanto, a linha entre a alta performance e o esgotamento é tênue. É nesse cenário complexo que a trajetória de Stella Lunardeli, uma profissional com certificações PMP® e CSM®, oferece uma perspectiva valiosa. Com uma carreira que atravessa gigantes como a IBM e agências globais como a Hogarth, ela vivenciou a evolução das metodologias de trabalho, do tradicional ao ágil, e hoje defende um modelo onde a sustentabilidade é a chave para o sucesso a longo prazo.
Nesta entrevista-perfil, Stella mergulha em suas experiências para discutir como a cultura ágil, quando bem implementada, transcende cerimônias e ferramentas para se tornar um pilar de crescimento contínuo e satisfação para equipes e clientes.
Entrevista
Com mais de 15 anos de carreira, você transitou por diferentes ambientes e metodologias. Como a sua jornada moldou sua visão sobre o que realmente significa ser “ágil”?
A minha jornada foi, de fato, um grande aprendizado. Comecei em ambientes mais tradicionais, com metodologias como o Waterfall, onde o planejamento era exaustivamente detalhado no início. Na IBM, por exemplo, tive a oportunidade de trabalhar com modelos híbridos, tentando extrair o melhor dos dois mundos. Foi essa transição que me fez perceber que “ser ágil” é muito mais sobre mentalidade do que sobre seguir um framework à risca. É sobre ter a capacidade de responder a mudanças, colaborar intensamente com o cliente e o time, e focar na entrega de valor contínuo. Na ArcTouch, onde os projetos são dinâmicos por natureza, essa visão se consolidou.
Agilidade é a cultura que permite que a metodologia funcione, e não o contrário.
Você menciona “cultura ágil”. Para muitas empresas, isso se resume a sprints e reuniões diárias. Como você define uma cultura ágil genuína e como ela se conecta à produtividade?
Uma cultura ágil genuína vai além dos rituais. Ela se baseia na confiança, na transparência e na segurança psicológica para que as equipes possam experimentar, errar e aprender rapidamente. É entender que o objetivo não é apenas entregar tarefas, mas resolver problemas reais para o cliente. Em minha experiência, a produtividade floresce quando o time tem autonomia e um propósito claro. A negociação com stakeholders, a definição de critérios de aceite claros e a busca por melhoria contínua, práticas que sempre valorizei, são os pilares que sustentam essa cultura. A produtividade deixa de ser uma medida de “horas trabalhadas” e passa a ser uma medida de “valor entregue”.
O tema “produtividade sustentável” tem ganhado força. Como a agilidade pode ser uma ferramenta para evitar o burnout e garantir que as equipes se mantenham engajadas e saudáveis a longo prazo?
Essa é a questão central. A agilidade, quando mal interpretada, pode se tornar uma armadilha para o burnout, com a pressão por entregas cada vez mais rápidas. A produtividade sustentável, sob a ótica ágil, vem do ritmo. Assim como em uma maratona, não adianta dar um “sprint” o tempo todo. É preciso ter um planejamento que respeite a capacidade da equipe, garantir a qualidade em cada etapa e, principalmente, ter ciclos de feedback que permitam ajustar o curso. Gerenciar entregas de ponta a ponta, como fiz em diversos projetos, me ensinou a importância de equilibrar escopo, prazo e qualidade. A verdadeira agilidade promove um ambiente onde a equipe pode manter um ritmo constante e previsível, o que gera confiança e evita o esgotamento.
Quais são os maiores desafios para implementar essa cultura ágil e sustentável, especialmente em grandes corporações?
Em grandes organizações, o principal desafio é a mudança de mentalidade. Estruturas hierárquicas e processos engessados são, por natureza, resistentes à flexibilidade que o ágil propõe. Outro ponto é a coexistência de diferentes metodologias. Muitas vezes, uma equipe de desenvolvimento opera em Scrum, mas o restante da empresa segue um modelo tradicional, gerando atritos e desalinhamento. Superar isso exige um forte patrocínio da liderança, muita comunicação e um trabalho de aculturação que vai além do time de TI. É preciso provar o valor do novo modelo através de resultados consistentes, focando sempre na satisfação do cliente e no crescimento sustentável do negócio.
Para os gerentes de projeto que estão começando, que conselho você daria para que construam equipes produtivas e, ao mesmo tempo, saudáveis?
Meu conselho é: invistam em pessoas e em conhecimento. Certificações como PMP e CSM são importantes, pois dão a base teórica, mas a prática diária é o que realmente forma
um bom líder. Aprendam a ouvir sua equipe e seus clientes. Sejam facilitadores, removendo impedimentos em vez de apenas cobrar prazos. E, acima de tudo, entendam que a qualidade e o bem-estar da equipe não são negociáveis. Uma equipe saudável e motivada é o ativo mais valioso de qualquer projeto. A produtividade será uma consequência natural de um ambiente bem gerido e de uma cultura forte.
Stella Lunardeli é Gerente de Projetos Sênior na ArcTouch, com mais de 15 anos de experiência em desenvolvimento de projetos e suporte a clientes no setor de TI. É certificada PMP® (Project Manager Professional) e CSM® (Certified ScrumMaster®), com um histórico comprovado na gestão de implantações de ponta a ponta e na promoção da melhoria contínua em diversas iniciativas.


