CRISE NO SISTEMA FINANCEIRO E CONEXÕES INCÔMODAS: CONTRATAÇÃO DO ESCRITÓRIO DA FAMÍLIA DE ALEXANDRE DE MORAES PELO BANCO MASTER LEVANTA QUESTIONAMENTOS
O colapso iminente do Banco Master — que pode se tornar o maior resgate da história do sistema financeiro brasileiro desde a criação do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) — já seria, por si só, um problema gigantesco. Mas a revelação de que a instituição, controlada pelo empresário Daniel Vorcaro, contratou o escritório Barci de Moraes, no qual atuam a esposa do ministro do STF Alexandre de Moraes, Viviane Barci de Moraes, e dois filhos do casal, adiciona uma camada espessa de controvérsia a um cenário já turbulento.
Segundo apuração da jornalista Malu Gaspar, o contrato tem como objetivo representar o banco em ações judiciais. O que o Master não informou — e que alimenta a névoa de desconfiança — é quais processos estão em jogo e quanto foi pago pelo serviço. Em um momento em que a instituição financeira corre o risco de protagonizar um salvamento bilionário, a falta de transparência se torna ainda mais ruidosa.
Um banco à beira do precipício
Os números oficiais do Banco Central, referentes a março, escancaram a dimensão do problema:
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R$ 87 bilhões em ativos,
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R$ 83 bilhões em passivos,
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e impressionantes R$ 60 bilhões em depósitos cobertos pelo FGC.
Para fins de comparação, o emblemático caso do Banco Nacional, que quebrou em 1995, deixou um rombo entre R$ 5 e R$ 10 bilhões — valores que hoje equivaleriam a algo na casa de R$ 25 a R$ 50 bilhões. Ou seja, o possível resgate do Master pode ser, literalmente, maior do que qualquer outro já visto no país.
Em meio a números tão alarmantes, a escolha do escritório da família de um ministro do STF — um tribunal que continuamente decide questões estruturais do sistema financeiro — não poderia deixar de gerar questionamentos públicos, ainda que não exista, até o momento, qualquer indício de envolvimento do ministro Alexandre de Moraes em processos relacionados ao banco.
Conflito de interesses? A sombra que paira
No Supremo Tribunal Federal, Viviane Barci de Moraes está vinculada a pelo menos 30 processos públicos, segundo consulta feita pela reportagem, mas nenhum deles tem relação com o Banco Master. O dado é importante, mas insuficiente para dissipar as dúvidas: em uma democracia saudável, a aparência de conflito de interesses já é, por si só, um problema.
O Brasil assiste, mais uma vez, à colisão entre poder econômico, crise sistêmica e conexões no topo da estrutura de poder. E quando um banco prestes a provocar um resgate bilionário escolhe como representante um escritório ligado à família de um dos homens mais poderosos da República, o debate deixa de ser uma questão técnica para se tornar uma discussão sobre ética pública, transparência e responsabilidade institucional.
O silêncio incômodo
O Banco Master não esclareceu quais são as ações que motivaram a contratação nem os valores envolvidos. A ausência de informações em um momento de altíssimo risco para o sistema financeiro não apenas compromete a confiança dos correntistas e do público, como alimenta suspeitas desnecessárias — sobretudo quando o assunto toca diretamente um ministro do Supremo.
Em um país habituado a crises financeiras, mas também a arranjos de bastidores, a falta de transparência se torna combustível para críticas. O episódio expõe mais um capítulo da relação nebulosa entre grandes bancos, escritórios poderosos e figuras do topo da estrutura institucional brasileira.
Enquanto o Banco Central tenta apagar o incêndio e o mercado observa atento, fica a pergunta: um resgate bilionário pode vir acompanhado de um silêncio tão conveniente?
E, mais ainda: por que essa conexão só aparece agora, quando o banco está à beira do abismo?









