A COP-30, realizada em Belém, coloca o governo federal de volta ao centro de uma nova polêmica. A Empresa Brasil de Comunicação (EBC), estatal responsável pela comunicação oficial do Palácio do Planalto, firmou um contrato de R$ 27,9 milhões com a Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI) para a cobertura jornalística do evento climático.
O valor, já considerado elevado por especialistas do setor, ganha contornos ainda mais controversos diante do histórico recente da OEI com o governo Lula. A entidade — próxima de quadros do PT e da esposa Rosângela da Silva, a Janja — já acumulou R$ 710 milhões em acordos de cooperação desde o início de 2023, um salto de 800% em relação ao que recebeu durante toda a gestão Bolsonaro.
Sinal amarelo: concentração de contratos e vínculos políticos
A escalada repentina de recursos direcionados à OEI levanta questionamentos sobre critérios de seleção, transparência e possível direcionamento político. A organização tem ampliado sua presença no governo desde que, no início do mandato, houve articulação para que Janja assumisse um cargo dentro da instituição.
Poucos meses depois, em abril de 2023, a OEI anunciou a criação da Rede Ibero-Americana para a Inclusão e a Igualdade, que seria coordenada justamente pela primeira-dama — cargo simbólico, porém politicamente útil, que reforça a aproximação institucional entre o governo e a entidade.
Essa proximidade coloca em xeque a isenção e a lisura dos contratos firmados pela administração federal.
Contrato da EBC: valor alto e justificativas frágeis
Questionada, a EBC afirmou que o contrato de quase R$ 28 milhões é compatível com os valores de mercado e que o pacote inclui a transmissão de mais de 42 espaços de debate da conferência. No entanto, profissionais de comunicação ouvidos por especialistas apontam que o valor extrapola o padrão mesmo para eventos de grande porte e questionam o fato de a execução ser terceirizada justamente à OEI.
Além disso, o contrato é firmado em um contexto de crescente dependência do governo federal em relação à entidade para ações de comunicação, educação e projetos sociais — muitas vezes sem concorrência tradicional.
OEI nega favorecimento — mas dúvidas permanecem
A OEI, por sua vez, afirma seguir “padrões internacionais de governança” e rejeita qualquer hipótese de favorecimento. Ainda assim, a concentração de contratos, a velocidade com que a entidade ganhou protagonismo no atual governo e a ligação direta com a primeira-dama alimentam críticas e desconfianças.
COP-30: entre discurso ambiental e práticas contestadas
A realização da COP-30 em Belém foi apresentada pelo governo Lula como símbolo de liderança ambiental do Brasil. No entanto, episódios como o contrato da EBC, o custo elevado de estruturas temporárias e a própria hospedagem do presidente em iates de luxo vêm dando munição a quem vê no evento mais marketing político do que compromisso real com transparência e responsabilidade pública.
A combinação entre gastos milionários, ausência de concorrência efetiva e vínculos políticos diretos transforma a COP-30 em um palco não apenas climático, mas também de questionáveis práticas de governança pública.
No fim, a conferência que deveria reforçar a imagem ambiental do Brasil acaba iluminando, cada vez mais, as sombras administrativas do governo Lula.
Por Marcos Soares
Jornalista – Analista Político instagram.com/@marcossoaresrj | instagram.com/@falageralnasruas
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