“O Macaense em tempos de campanha”

A Gazeta Popular
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Se traçarmos, em linhas gerais, o que os candidatos da eleição deste ano estão propondo na cidade de Macaé, com certeza ouviremos falar de saneamento básico, de assistencialismo social, da importância do esporte e de muitos outros temas que, de tanto repetidos, já se tornaram campanhas chavões, mas sempre passando ao longe da pergunta central, do único lugar possível a encontrar propostas que de fato respondam à realidade macaense, fora do imbróglio mental dos candidatos, “quid est?”. O que se passa nessa cidade? Comecemos pelo problema mais próximo e evidente, pois como diria Aristóteles, só os idiotas negam o evidente.

Nada mais comum em tempos de campanha, nesta terra d’El Rey, que encontrar um colega caçando um candidato para ganhar um dinheirinho, seja como ‘brinde’ adesivando o carro ou, de maneira menos direta, enchendo o tanque de combustível; sem contar os tijolos e sacos de cimentos eletivamente recebidos. Há, também, aquelas pessoas com maior perspectiva, que anseiam por ganhar um trabalho na prefeitura, e até mesmo um cargo adjutório no gabinete do futuro eleito. Esse é o candidato bom, que olha para o povo.

Se o benefício prometido não me ajuda de maneira direta e imediata, não serve, e essa atitude quase sempre vem justificada pelos futuros roubos que o candidato eleito irá cometer. Estimativa que raramente está errada, pois quem é quem não rouba?
Todos os candidatos macaenses sabem e muitos, para não ser injusto dizendo todos, se elegem por causa disso. É uma aritmética mais certa que o somatório de dois mais dois:
Quanto mais dinheiro investido na campanha, mais votos acumulados, e quanto mais eleições ganhas, mais dinheiro acumulado para as próximas. Um faz-se de enganado para ganhar um trocadinho enquanto o outro engana se fingindo de bom moço.

O processo eleitoral ergue-se sobre um véu de aparências que todos sabem serem um véu e, mesmo sabendo do monstro que há por baixo, aceitam sem oposição de consciência, a final de contas, ele é uma pessoa muito boa, me ajudou a comprar os 4 pneus do carro. É como se duas camadas de realidade existissem superpostas na cabeça do indivíduo sem lhe causar contradição, em que aceita a farsa sem perder consciência da realidade e, por isso mesmo, usa da consciência da mentira para conseguir algum benefício próprio. Essa é a dinâmica natural sobre a qual se ergue as eleições macaenses.

O político cá dessas bandas é um tipo muito próprio, que cunho chamar de “político orgânico”. O político orgânico é aquele sem discurso ideológico bem definido, que não se importa em fazer coligações com muitos partidos de alas distintas e que, enfim, coloca a sua carreira política e a sucessão de sua família no poder acima de qualquer projeto ideológico; ele é como aquelas espécies de trepadeira que crescem rapidamente plantadas seja em qual solo for, espalhando-se por cercas, muros e árvores irrefreavelmente. Boa parte desses candidatos só quer subir de vida, e os que raramente fogem a essa definição são esquerdistas, muitos filhos da UFRJ e do IFF, mais
especificamente membros das militâncias que açambarcam esses lugares.
O político orgânico foge das disputas acirradas, ele não quer arrumar problemas que atrapalhem sua futura eleição. E não há ambiente mais favorável para fazer avançar a agenda revolucionária do que um ambiente cheio de políticos orgânicos.

E aqui, sim, há uma faixa de ignorância que assola tanto o povo quanto a maioria dos candidatos macaenses incapazes de perceber: a língua bifurcada do revolucionário que tem uma agenda discreta a promover por baixo dos discursos e propostas apresentados. Quem se beneficiaria mais que os comunistas nesse ambiente de fingimento consciente e ignorância quase invencível?

Esses elementos são suficientes para entender a dinâmica política da cidade? Basta adicionar a essa receita o tráfico, as famílias dinásticas que se sucedem no poder, as sociedades secretas e bater muito bem até a massa ficar homogênea. Passa assim a vida o macaense sendo jogado para lá e para cá entre agentes dos quais não conhece os planos plenamente, mal-informado, tentando tirar algum benefício próprio desta grande máquina aparelhada, desesperançoso de que haja solução para os esquemas que moldam esse município.