Crescimento de moradores de rua em Macaé expõe contradições da “Capital do Petróleo”
Postos de combustíveis desativados viram abrigos improvisados e calçadas se transformam em moradia; custo de vida alto e falta de políticas eficazes agravam o problema.
Macaé (RJ) — Conhecida nacionalmente como a “Capital do Petróleo” e símbolo de prosperidade econômica, Macaé enfrenta um paradoxo cada vez mais visível: o aumento alarmante da população em situação de rua. O cenário, que antes era pontual em algumas regiões, hoje se espalha por toda a cidade, assustando pedestres e gerando sensação de insegurança entre os moradores.
Postos de combustíveis desativados, praças, teatros e calçadas se transformaram em moradias improvisadas. O que antes simbolizava progresso e oportunidades, agora revela uma face de abandono e desespero.
“É assustador ver como a cidade cresceu para alguns e afundou para outros”, relata uma moradora do centro. “Tem famílias inteiras dormindo nas ruas, crianças pedindo comida nos semáforos. É de partir o coração.”
O fenômeno, segundo relatos, está diretamente ligado ao alto custo de vida no município — um dos mais caros do Brasil. Os aluguéis, considerados exorbitantes, somados ao desemprego e à desigualdade social, empurram pessoas que vieram em busca de uma vida melhor para a extrema vulnerabilidade.
“Muita gente vem achando que Macaé é a galinha dos ovos de ouro”, afirma um morador que vive há mais de dez anos na cidade. “Mas quando chega, descobre que não é bem assim. Sem trabalho e sem condições de pagar aluguel, acabam nas ruas.”
A Prefeitura de Macaé mantém um abrigo público em um antigo hotel, destinado a acolher moradores de rua. No entanto, denúncias apontam que o espaço, na prática, funciona de forma precária e beneficia mais empresários e gestores do que as pessoas em situação de vulnerabilidade.
Enquanto isso, o número de moradores de rua cresce visivelmente a cada semana. Famílias inteiras, migrantes e até ex-trabalhadores do setor petrolífero se juntam a um contingente esquecido pelas políticas públicas.
Para os especialistas, o cenário é resultado da ausência de uma política habitacional estruturada e de ações efetivas de reinserção social. “Sem trabalho, moradia e assistência real, o que vemos é o colapso de uma cidade que enriquece poucos e abandona muitos”, resume um assistente social que preferiu não se identificar.
Em meio ao contraste entre luxo e miséria, Macaé parece viver uma crise silenciosa — a de uma cidade que gera riqueza, mas não consegue garantir dignidade aos que nela depositaram suas esperanças.
Por Marcos Soares


