Crise sem Fim: A Falência da Segurança Pública no Rio e a Decadência do Governo Cláudio Castro

A Gazeta Popular
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Facções dominam territórios, milícias se expandem, e a população vive sob medo constante — o retrato de um Rio abandonado por um governo que perdeu o controle.

 

O estado mais emblemático do Brasil, conhecido mundialmente por suas paisagens deslumbrantes e cultura vibrante, vive hoje um de seus piores momentos. Sob a gestão do governador Cláudio Castro (PL), o Rio mergulhou numa espiral de violência, corrupção e abandono institucional. O que antes era um problema localizado se espalhou como um câncer pelas estruturas do Estado: segurança pública falida, saúde precária, corrupção endêmica e ausência total de autoridade em vastas áreas do território fluminense.

 

O Rio Governado pelas Armas

Em comunidades de norte a sul do estado, a ordem não vem do governo, mas das armas. Facções como Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro e Milícias impõem toque de recolher, cobram taxas de moradia e controlam serviços clandestinos como internet e gás. Em muitos bairros, o Estado simplesmente não entra. A ausência de política pública virou regra, não exceção.

 

“Vivemos sob a lei do silêncio. Quem denuncia, morre. E o governo finge que não vê”, relata uma moradora de Jacarepaguá, que pediu anonimato.

 

Segurança Pública à Deriva

A violência não é só territorial. O número de tiroteios cresceu exponencialmente, mesmo com as chamadas “operações integradas”. De acordo com dados do Instituto Fogo Cruzado, o primeiro semestre de 2025 já acumula mais de 1.300 tiroteios na região metropolitana — uma média de 7 por dia.

As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), outrora símbolo de esperança, tornaram-se obsoletas ou foram desmontadas. Policiais trabalham com equipamentos defasados, sem apoio, enquanto a cúpula da segurança protagoniza disputas internas e disputas por orçamento.

 

A Economia do Medo

O impacto vai além da violência. Investidores recuam, o turismo despenca e a evasão de empresas atinge recordes. O Rio, que já sediou Olimpíadas e Copas do Mundo, hoje assiste ao êxodo de seus jovens e ao colapso de sua infraestrutura.

Segundo o economista Carlos Mendonça, da UERJ, “nenhuma política de desenvolvimento é viável em um ambiente de insegurança permanente. O Estado precisa ser retomado — e isso só acontece com comando político firme, que hoje claramente não existe.”

 

O Estado Tomado – A Derrocada de Cláudio Castro e o Avanço do Crime Organizado

Um Rio de Janeiro a deriva

O Rio de Janeiro, cartão-postal do Brasil, está à beira do colapso institucional. A segurança pública, outrora prioridade retórica de campanhas eleitorais, se transformou em tragédia diária. Governado por facções criminosas, milícias e pela omissão do Estado, o território fluminense se esfacela sob os olhos de um governo que parece ter perdido as rédeas — ou simplesmente optado por não enfrentá-los. No centro da crise, está o governador Cláudio Castro (PL), cuja gestão tem sido marcada por escândalos, paralisia administrativa e conivência política.

 

O cenário de guerra – Dados que escancaram o abandono

A violência no Rio de Janeiro não é uma percepção: é uma estatística concreta. Segundo levantamento da plataforma Fogo Cruzado, entre janeiro e junho de 2025:

  • Houve mais de 1.370 tiroteios registrados apenas na Região Metropolitana;
  • 320 pessoas foram mortas por intervenção policial, incluindo 25 crianças e adolescentes;
  • Milícias controlam mais de 25% da capital, segundo estudo da UFRJ;
  • Facções dominam 38% do território do estado, com forte presença na Baixada Fluminense e no Complexo da Maré.

 

Esses números revelam um estado onde o poder de fogo do crime supera o da polícia, e onde comunidades inteiras vivem sob toque de recolher, imposição de regras paralelas e extorsão diária.

 

A indústria do medo – Como o crime se institucionalizou

Hoje, milicianos e traficantes já não se escondem. Controlam serviços como gás, internet, transporte alternativo e até o fornecimento de água em comunidades. Cobram taxas de moradia, escolhem candidatos políticos e impõem sua lei — substituindo o Estado ausente.

Na favela de Rio das Pedras, por exemplo, milicianos realizam “assembleias” com comerciantes, definem horários de funcionamento e punem quem desobedece. A polícia, raramente vista, só atua em operações esporádicas — geralmente com mortes, mas sem prisões significativas.

 

O silêncio da imprensa e o marketing do governo

Enquanto o estado agoniza, o Palácio Guanabara investe pesado em publicidade. Vídeos institucionais mostram um Rio idealizado, com obras entregues, policiamento ativo e progresso social. Nos bastidores, contratos milionários com agências de publicidade garantem silêncio e maquiagem da realidade.

Parte da grande imprensa, dependente de verbas públicas, tem evitado reportagens mais contundentes. Quando noticiam a violência, fazem-no de forma fragmentada — sem apontar os responsáveis políticos diretos.

 

O desmontes das políticas públicas

As UPPs foram abandonadas. O programa Segurança Presente sofre cortes orçamentários. A formação policial está defasada, e o efetivo diminui ano após ano.

Na saúde, hospitais sucateados e UPAs sem insumos tornam a vida ainda mais difícil para quem vive nas áreas conflagradas. Na educação, escolas fecham mais cedo para evitar confrontos entre facções.

 

A conexão política das milícias – Quem se beneficia do caos?

A expansão das milícias no Rio de Janeiro não é um fenômeno espontâneo. Trata-se de um projeto de poder. Investigações conduzidas pelo Ministério Público revelam uma sofisticada rede de políticos, ex-policiais e empresários que atuam de forma integrada para explorar economicamente os territórios dominados.

Deputados estaduais e vereadores eleitos com votação expressiva nas zonas dominadas aparecem como beneficiários diretos do apoio de milicianos. Em troca, garantem blindagem legislativa, indicações em cargos estratégicos e contratos públicos direcionados.

Na gestão de Cláudio Castro, nomes com histórico de atuação em áreas sensíveis da segurança pública foram alçados a postos-chave, inclusive figuras investigadas por lavagem de dinheiro ou abuso de autoridade.

Fontes da Polícia Civil confirmaram à reportagem que há “obstáculos políticos” para o avanço de investigações sensíveis. Delegados que tentaram aprofundar denúncias contra políticos ligados à milícia foram deslocados de função ou sofreram pressões internas.

 

O centrão fluminense e o uso do estado como moeda

Cláudio Castro manteve-se no poder através de uma aliança ampla com o chamado “Centrão fluminense” — um bloco de parlamentares fisiológicos, que controlam emendas, cargos e orçamentos secretos.

Em 2023 e 2024, mais de R$ 4,2 bilhões em emendas parlamentares estaduais foram distribuídas sem critérios técnicos claros. Muitas dessas verbas foram canalizadas para ONGs e empresas ligadas a aliados políticos do governador.

Auditorias independentes apontam superfaturamento em contratos de merenda escolar, construção de clínicas da família e obras de pavimentação em áreas periféricas — ironicamente, muitas localizadas em territórios sob controle da milícia.

 

O judiciário fluminense e a zona de conforto do crime 

Outro fator preocupante é a postura ambígua de parte do Poder Judiciário fluminense. Embora haja juízes combativos e decisões corajosas, também há casos de lentidão deliberada, arquivamentos duvidosos e sentenças lenientes envolvendo figuras influentes.

A proximidade de Cláudio Castro com setores do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) e do Tribunal de Justiça gera suspeitas. Nomeações de conselheiros e desembargadores têm sido alvo de críticas por critérios puramente políticos.

Advogados criminalistas relatam que, em determinadas comarcas, processos contra milicianos sequer avançam para fase de instrução. O medo do confronto com o poder paralelo chegou às instituições.

 

Operações de fachada – Mortes sem responsáveis

Em meio ao caos, o governo realiza operações de grande impacto midiático. No entanto, a eficácia real dessas ações é contestada por especialistas.

A operação na Vila Cruzeiro, em 2024, resultou em 42 mortes — nenhuma com mandado de prisão. Das armas apreendidas, poucas estavam com numeração identificável. Nenhum líder de facção foi capturado.

Segundo a Defensoria Pública do Estado, houve indícios de execução sumária e ocultação de provas. O governo, por sua vez, classificou a operação como “bem-sucedida”.

“A lógica é mais próxima de extermínio do que de inteligência policial. Serve para estatística e propaganda, mas não enfraquece o crime”, avalia o sociólogo Rubens de Carvalho, do Instituto de Estudos Urbanos da UFRJ.

As milícias fluminenses se transformaram em verdadeiras corporações privadas. Controlam setores inteiros da economia informal e parte da formal. Segundo estudo do Observatório das Metrópoles:

  • A arrecadação mensal da milícia no RJ já supera R$ 25 milhões em bairros como Campo Grande, Santa Cruz e Itaguaí;
  • São exploradas linhas de transporte alternativo, postos de gasolina, construções ilegais, venda de imóveis, TV a cabo, gás e internet;
  • Há parlamentares que legislam diretamente para interesses de milicianos.

“Trata-se de um modelo de negócio violento e altamente lucrativo. É o capitalismo da brutalidade”, resume o urbanista Alexandre Magalhães, autor do livro Milícias e a Economia do Medo.

 

A hora da verdade – O Rio não pode esperar

A eleição de 2026 pode ser o ponto de virada ou o aprofundamento da tragédia. Com Castro fragilizado, mas ainda blindado por alianças políticas e verbas publicitárias, o risco é o Estado manter o mesmo ciclo vicioso, apenas com nova embalagem.

A sociedade fluminense precisa decidir se continuará anestesiada ou se romperá o pacto de silêncio. A reconstrução será longa, mas só começa com um passo: expor os responsáveis, enfrentar os cúmplices e recuperar o que ainda resta do Estado.

 

Escolas sob tiros 

Em áreas dominadas por milícias e facções, escolas públicas funcionam sob permanente estado de exceção. Professores trabalham com medo. Crianças aprendem a se esconder antes de aprender a ler.

Na Pavuna, em setembro de 2024, a Escola Municipal Cecília Meireles ficou fechada por cinco dias consecutivos após confronto entre milicianos e traficantes. “Temos que decidir entre dar aula ou proteger nossas vidas”, desabafa uma diretora, que pediu anonimato.

Segundo o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe-RJ), 38% das escolas da Baixada Fluminense enfrentaram suspensão de aulas devido a conflitos armados só no primeiro semestre de 2025.

Além disso, em muitas comunidades, milicianos influenciam diretamente os conteúdos escolares, proíbem debates sobre direitos humanos e exigem que líderes comunitários frequentem as reuniões pedagógicas — impondo uma pedagogia do medo.

 

A máquina de lavagem – Como o dinheiro do crime chega às prefeituras

A entrada de dinheiro sujo nas estruturas institucionais se dá, sobretudo, via prefeituras e contratos públicos de pequeno porte. Em 2024, o Tribunal de Contas do Estado identificou mais de 70 empresas-laranja operando em licitações de cidades da Região Metropolitana do Rio.

Empresas ligadas a milicianos vencem licitações para obras, coleta de lixo, fornecimento de insumos hospitalares e até merenda escolar. O pagamento é legal. A origem do capital não.

Há casos em que os próprios vereadores apresentam indicações de empresas “recomendadas”, e prefeitos, sob ameaça ou por conivência, assinam os contratos.

“É o que chamamos de crime organizado de gravata: a estrutura do Estado usada como lavanderia”, afirma o promotor Rodrigo Nunes, do Gaeco.

 

A imprensa sufoca pelo medo e pela propina

Denunciar o poder paralelo no Rio tem um custo alto. Jornalistas independentes vêm sendo perseguidos, ameaçados e agredidos. Em 2024, o repórter investigativo Carlos Tavares foi assassinado na porta de casa, em Nova Iguaçu, após série de reportagens sobre milicianos.

Outros profissionais foram cooptados. Grandes veículos têm contratos de publicidade milionários com o governo estadual — e evitam investigar temas sensíveis.

Blogs, portais locais e perfis em redes sociais cumprem, com precariedade e coragem, o papel que a grande mídia abandonou. Mas enfrentam censura algorítmica, processos judiciais abusivos e intimidações constantes.

“Fazemos jornalismo com o celular na mão e o caixão nas costas”, resume uma comunicadora popular da Zona Norte.

O impacto da violência na saúde pública

O sistema público de saúde do Rio de Janeiro sofre pressão dupla: enquanto lida com a alta demanda por atendimento a vítimas de violência armada, também enfrenta desabastecimento crônico, falta de profissionais e infraestrutura precária.

Hospitais públicos, especialmente na Baixada Fluminense, registram aumento de até 40% no atendimento a pacientes vítimas de tiros e agressões. Muitas unidades, no entanto, funcionam com estoques mínimos de medicamentos e equipamentos essenciais.

Profissionais de saúde relatam que a sensação constante de insegurança nas áreas de conflito compromete o atendimento e a qualidade dos serviços, gerando um círculo vicioso que agrava ainda mais a situação.

 

O silêncio de Brasília – Governo Federal lava as mãos

Enquanto o Rio de Janeiro arde em caos, o governo federal mantém uma postura de distanciamento. Não há plano emergencial para o estado. Não há presença contínua da Força Nacional. Não há políticas estruturantes voltadas à retomada de territórios dominados pelo crime.

Lula evita mencionar o Rio em seus pronunciamentos, e o ministro da Justiça — Ricardo Lewandowski — atuam mais como garantidores do discurso institucional do que como articuladores de ações efetivas. A ausência de uma intervenção federal controlada, com foco em inteligência, direitos humanos e reconstrução institucional, tem sido interpretada como cálculo político para não se indispor com aliados locais do Centrão, dos quais Cláudio Castro é peça importante.

O fracasso da intervenção federal de 2018, liderada pelo general Braga Netto, ainda paira como um fantasma. Na época, o discurso era semelhante: retomar o controle do estado, combater o crime e reestruturar a segurança. O resultado? Nenhum avanço estrutural e aumento da letalidade policial.

A desconfiança da população com soluções militaresizadas é compreensível. No entanto, especialistas alertam que evitar o enfrentamento apenas por medo de repetir erros passados é um erro maior. “A diferença está no modelo. Intervenção militar é diferente de intervenção institucional com base em inteligência, auditoria, e articulação civil”, explica a cientista política Marina Peixoto, da FGV

 

A guerra perdida que pode ser vencida

A crise do Rio de Janeiro é o retrato de um Brasil que falhou. Mas não está irremediavelmente perdido. A reconstrução depende de vontade política, engajamento social e coragem institucional. O governo Cláudio Castro será lembrado como cúmplice, omisso ou parte ativa no colapso? A história ainda está sendo escrita. O povo fluminense, no entanto, já sente em sua pele as consequências da inércia.

 

E agora RIO?

Com as eleições de 2026 no horizonte, cresce o clamor por mudança. Mas a pergunta que paira sobre a Guanabara é: há alternativa real? O ciclo vicioso de corrupção, violência e abandono parece repetir-se a cada quatro anos, sob novas siglas e velhos rostos. A retomada do Estado exige mais que promessas: exige coragem política, enfrentamento institucional e apoio federal permanente — algo que, até agora, Cláudio Castro não demonstrou.

 

Depoimentos:

“Minha filha de 12 anos não consegue dormir sem o som de tiros. Já virou rotina.” — Luciana, moradora da Vila Kennedy

“Tem dia que o crime cuida melhor da gente do que o Estado.” — Ronaldo, mototaxista na Zona Oeste “Ou você paga a milícia, ou fecha as portas.” — José, comerciante em Campo Grande

Um estado refém

O Rio de Janeiro vive uma crise sem precedentes. Não se trata apenas de segurança — mas de soberania. Um estado que perde o controle sobre seu território não é apenas um fracasso administrativo; é uma ameaça à democracia. Enquanto isso, Cláudio Castro administra o caos com silêncio, propaganda e alianças perigosas. Resta saber por quanto tempo o povo fluminense aceitará viver refém de um governo que abandonou sua missão mais básica: proteger seus cidadãos.

 

O Que Vem a Seguir?

A população fluminense está descrente. Com as eleições de 2026 se aproximando, cresce a pressão por uma nova liderança que rompa com o ciclo de corrupção, abandono e improvisação. Até lá, a pergunta que fica é: quem governa, de fato, o Rio de Janeiro?

 

Por Marcos Soares
Jornalista – Analista Político