O que estamos presenciando, em rede nacional e diante dos olhos perplexos de milhões de brasileiros, não é um julgamento, mas sim um espetáculo previamente roteirizado. A toga transformou-se em fantasia de tirania, e os ministros do Supremo Tribunal Federal decidiram abandonar qualquer compromisso com a imparcialidade para vestir-se como personagens de um teatro político grotesco.
O julgamento de Jair Bolsonaro e de todos os citados nesse processo é a prova mais contundente de que a Justiça brasileira foi sequestrada. Quem deveria julgar com base na Constituição age como militante de palanque. Não há mais freios nem contrapesos. O juiz fala fora dos autos, concede entrevistas, agride moralmente os réus antes mesmo de qualquer defesa formal e, pior, antecipa sentenças como se estivesse apenas encenando uma peça cujas falas já estavam escritas.
A sentença estava pronta antes mesmo da petição inicial. Não há surpresa, não há análise, não há direito à ampla defesa. O devido processo legal foi sepultado. Em seu lugar, ergue-se o maior atentado contra a democracia e o Estado Democrático de Direito que o Brasil já testemunhou em sua história republicana. O STF não age como Corte Constitucional, mas como executor de um projeto de poder.
E como se não bastasse a farsa no mérito, o cenário do julgamento foi transformado em um palanque político. Lindbergh Farias, figura carimbada da extrema-esquerda, condenado por improbidade (ainda que sem trânsito em julgado), esteve pessoalmente no plenário como gesto simbólico de afronta. Sua presença não é casual; é deliberada, para exibir que este julgamento é político, e não jurídico. Ao seu lado, Jandira Feghali, outra representante da velha esquerda radical, reforça a encenação, como se a Corte fosse apenas a extensão do diretório partidário.
Não é preciso ser jurista para compreender o que está em jogo. Trata-se de uma tentativa descarada de reescrever a história pela via judicial, com os ministros assumindo o papel de algozes de quem ousou desafiar a hegemonia do sistema. A democracia morre não apenas quando tanques ocupam as ruas, mas também quando a Constituição é rasgada em silêncio, com a caneta de quem deveria defendê-la.
Esse julgamento não é apenas contra Bolsonaro ou contra seus aliados. Ele é contra todos os brasileiros que acreditam no voto como instrumento soberano de escolha. Se a decisão política dos ministros prevalecer, estaremos diante de uma ruptura institucional inédita na história do país, praticada não por generais ou forças armadas, mas por magistrados que se arrogam o direito de decidir quem pode ou não participar da vida política nacional.
O Brasil não precisa de tribunais-espetáculo, mas de juízes que respeitem os autos, que não façam da toga uma bandeira partidária. A cada dia que passa, fica mais evidente que a democracia brasileira está sendo estrangulada não por aqueles que a contestam, mas por aqueles que dizem defendê-la.
O que começa hoje não é um julgamento. É a oficialização da maior farsa jurídica da história da República.
Por William Dornellas (Jornalista – Colunista)