“O Poder Que Não Aceita Ser Questionado — e o Ministro Que Quer Ser Temido, Não Respeitado”

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Por Marcos Soares – Jornalista – Analista Político

O Brasil já entendeu uma coisa: não existe instituição mais sensível à crítica do que o STF. E dentro dele, há um ministro em especial que parece ter alergia até ao conceito de discordância. Alexandre de Moraes transformou a própria função numa demonstração permanente de força, como se a toga fosse um manto mágico que autoriza tudo — menos ser contestado.

E assim seguimos: o país afundando em insegurança, economia patinando, facções crescendo como mato em terreno abandonado… e Moraes preocupado, religiosamente, com a vida cotidiana de Jair Bolsonaro.
É uma fixação institucional digna de estudo.
Se Freud fosse vivo, estaria montando consultório dentro do STF.

O Brasil arde — e Brasília brinca de “quem manda mais”

Enquanto a população tenta sobreviver ao caos, o Supremo parece obcecado com uma batalha simbólica, quase pessoal, contra um único indivíduo. Não importa quantos criminosos de verdade espalhem terror pelo país — desde que a agenda esteja livre para mais uma medida contra Bolsonaro, está tudo certo.

É como se a Justiça brasileira tivesse criado um departamento exclusivo:
a Superintendência de Ações Contra o Ex-Presidente.
Um órgão não oficial, mas inteiro dedicado a um único alvo, num país onde o crime comum deixou de ser comum e virou rotina.

E então vem o espetáculo das datas: o famoso “calendário da coincidência”

Quando uma decisão aparece justamente no dia 22, de novo, e depois mais uma vez, e depois outra… quem ainda acredita em coincidência?
Coincidência assim não existe nem em filme mal escrito.
E olhe que o enredo político brasileiro já tem mais clichês que novela das nove.

A sensação de deboche é inevitável.
Não é só a decisão — é o recado, o gesto teatral, a piscadinha institucional que diz:
“Eu posso.”

Mas o Brasil não achou graça.
E não vai achar.

Justiça não é instrumento de imposição — e muito menos de vaidade

O problema não é só o conteúdo das decisões.
É o tom.
É a postura.
É a segurança autoconcedida de quem se vê acima de qualquer contestação, crítica, debate ou limite.
E quando o Poder passa a agir como se fosse imune ao próprio país, nasce algo muito pior: um abismo entre povo e instituições.

Hoje, grande parte dos brasileiros olha para o STF não como guardião da Constituição, mas como árbitro que entra em campo para chutar a bola, expulsar jogadores e ainda mandar calar a torcida.

E isso corrói.
Corrói a confiança.
Corrói o respeito.
Corrói algo que leva décadas para construir e segundos para destruir.

O Brasil precisa de Justiça — não de demonstrações de força

A cada decisão teatralizada, o STF se afasta um pouco mais da população.
A cada operação calculada no relógio, aproxima-se menos da Justiça e mais do protagonismo.
A cada gesto de poder mal explicado, perde autoridade — e ganha temor.

Mas autoridade não se sustenta no medo.
Se sustenta no respeito.

E o que estamos vendo hoje é um poder que prefere ser temido, não respeitado.

O Brasil não merece isso.
O Brasil não precisa de ministros-intérpretes de si mesmos.
Precisa de juízes.
Precisa de equilíbrio.
Precisa de instituições que não ajam como se a divergência fosse insulto e a crítica fosse crime.

Porque um país onde o juiz vira personagem e a Corte vira palco não é só um país em crise.
É um país à beira de perder a esperança nas próprias bases.

E quando isso acontece, meu amigo…
nem toga, nem decisão, nem calendário simbólico salva.